O JORNALISMO MORREU !

fevereiro 28, 2007

When the music is over

Que mané miuziquisover. Ainda entôo e vocalizo – só não brado porque a vizinhança já ameaçou chamar a carrocinha – o mantra “o jornalismo morreu”. Mas reconheço que a situação é crítica. Sou abordado nas ruas: ó ali o cara do jornalismo morreu ! Respondo, é claro, com resmungos e impropérios que não pretendo reproduzir aqui – não agora, ao menos. Me sinto um zumbi – se for um daqueles à procura de cérebros, então tá valendo. A sensação aumenta à medida que me encaminho para o crematório desta cidade para verificar se o dito cujo está queimando. Karma to burn, compreende ? Insisto com o mote, me referindo, é claro, ao jornalismo que diz a que veio, que revela seu cunho editorial e que não se atrela a mandos e desmandos. Utópico é o cacete, sujeito !

E olha só onde essa Minha Busca Particular (MBP, como você já bem sabe) me levou. A um necrotério chamado Broadcast. Da janelinha da sala de entrada deste morgue, vejo Cláudio Júlio Tognolli passando na rua. As situações triviais geram boas oportunidades. Como bom espírito-de-porco-que-anda que sou, resolvo lhe pregar uma peça. Abro o basculante e emulo um grunhido de morto-vivo do George Romero.

- Tognoooolli. Aqui é a voooz da sua consciêêêência. O joooornalismo morreeeeeeu ?

[atenção para o merchandising descarado a seguir. que só passou porque é válido e inserido no contexto – eita porra, quem deixou esse paulo francis adentrar o recinto ?]

Em seu quinto livro, “Mídia, Máfias e Rock and Roll”, que será lançado agora em março, pela Editora do Bispo, Tognolli dedica um capítulo ao telejornalismo. Ali ele demonstra como as empresas de telefonia celular compraram boa parte das mídias e estas esqueceram de contar tal fato ao leitor – peraí, isso não soa familiar ? O raciocínio assusta porque é simples. Siga a bolinha.

- A Carta Capital ataca o Daniel Dantas porque defende, sem avisar ao leitor, seu desafeto Luis Demarco, ou mesmo o Carlos Jereissati, dono da Telemar. A Isto É defende o Daniel Dantas, que era dono da Brasil Telecom. A Veja defendia a TIM. Acho ótimo esse ecumenismo. A democracia se faz com base na fricção e contradições. Mas: onde fica o leitor nisso ? Ele não é informado.

Meu acompanhamento deste raciocínio é interrompido por um cheiro lazarento que nem a Desentupidora Rola Bosta – sim, BH tem uma desentupidora com este singelo nome ... – conseguiria dar conta. Estou no lugar certo. Farejo – meu olfato é mais acurado do que o do Wolverine. Letrinhas em decomposição. Imagens putrefatas. Áudios de vermes. Ugh.

“O jornalismo está fedendo, mermão. Morreu faz eras”. O veredicto é de Luiz Biajoni, proferido 25 minutos antes de ele fechar um telejornal e gravar as cabeças. “Eis algo que importa: vão fazer Watchmen”.

Fedeu. A situação já era ruim somente com esse cheiro. E agora essa notícia. Notícia ? Informação ? Jornalismo o que ? Hã ? Hein ? Cuma ? Quequeisso, Biajoni ? “Jornalismo é release. Estudante não sabe os três poderes. ‘O único poder é dinhêro, mermão’, me respondeu um estudante dia desses”.

Então, nicas de compreender o que significa “prática crítica” ? Estamos despejando profissionais adaptadinhos ao tal do pensamento único ? Tognolli, ainda do lado de fora, dá três batidinhas na janela.

- Não há prática crítica. Vejamos a crítica musical: criticar música é no Brasil dar adjetivos a acordes. Quase ninguém que é crítico sabe o que é um acorde musical. Dei a notícia primeiro, tá bom.

Biajoni, equilibrando um CD do Nick Cave na ponta do dedo indicador direito, pondera, pondera, pondera e pondera. Depois chuta. “ Eu acho que o que falta mesmo, de maneira geral, são jornalistas recém-formados que saibam do que se trata o tal jornalismo. Que jornalismo é escrever e buscar fontes e saber onde achar as infos e ter criatividade e persuasão”.

A fedentina aumenta. Parece que quanto mais a gente mexe nisso, mais o futum prolifera. Nojo. Asco. Náusea. Repugnância. Máscara de oxigênio, faz favor. Opa, obrigado, Tom Cardoso.

- O jornalismo não morreu, mas está perto do fim, agonizando. As faculdades de jornalismo são uma piada. Deveriam acabar. É preciso instituir, como faz a OAB, uma prova de redação para quem deseja ter um diploma de jornalismo. Quem tirar abaixo de 7 está proibido de escrever para qualquer veículo, não ganha o MTB.

- Tognolli faz sinal para que saiamos dali e passemos a investigar de onde exala aquela inhaca. Acabamos todos parando no IML, estabacando-nos em uma cena clássica: corpo macilento em mármore gelado. Tom Cardoso, nosso legista cover de plantão, devidamente de posse de um avental branco, destrincha.

- Dos grandes jornais do passado, muitos mudaram a linha editorial para sobreviver e outros estão perto da falência. É o caso do JT (no primeiro caso) e do JB e da Gazeta Mercantil (segundo caso). Esses dois últimos foram comprados pelo Nelson Tanure, um mafioso, lobista, que sonha em ser um novo Chateaubriand. Os que sobreviveram não apresentaram nada de novo nos últimos anos. O Estadão continua sendo o jornal da família Mesquita. O Globo adota o bom-mocismo,o politicamente correto de sempre, sem grandes ousadias - é governista por excelência. A Folha é hoje comandada pelo Otavinho, um nerd, que não quis nascer jornalista, mas nasceu.

Acompanho sem tirar a máscara de oxigênio. E vejo que ali, naquela cavidade, se encontram as revistas. Tom prossegue. Eviscerando.

- A Carta Capital, com Mino à frente, tenta ser uma boa alternativa à mediocridade geral, mas não tem matéria-prima pra isso. Paga mal. Bem, a Veja, e a Isto É e a Época são absolutamente iguais. São hoje revistas de consultório, que rivalizam com Caras, Contigo etc.

Um esguicho de pus e outras gosmas menos cotadas interrompe Tom Cardoso, a tempo de evitar que ele inclua a Capricho nessa leva. Se isso não acontecesse, talvez Biajoni fizesse uma defesa mais apaixonada.

- Tem gente boa na Piauí, assim como tem na Rolling Stone, assim como tem na CAPRICHO. Ei, isso é sério! Minha filha lê CAPRICHO e vejo umas coisas muito interessantes lá ... O chamariz da revista é a futilidade do "novo ídolo", etc ... Assim como o chamariz da Piauí pode ser o chef que faz um texto metido a poético sobre como fazer goiabada.

Peraí, peraí, peraí. Eu me recuso a discutir algo relativo a Capricho – sim, sou um intransigente; eu cuspo em vocês. Vamos organizar isso aqui. Revistas como a Piauí e a versão brasileira da Rolling Stone – guardadas as devidas proporções e para nos atermos a apenas dois exemplos recentes – recuperam o "elán admoestado do jornalismo que diz seu nome ouié " ? Limpando as mãos no avental, Tom Cardoso balança a cabeça, em sinal positivo.

- A primeira está cada vez melhor. Precisa apenas se livrar do Ivan Lessa e do Millôr. A segunda me surpreendeu. Está dando espaço para grandes reportagens e adotou uma estratégia mafiosa, porém louvável. Coloca o Rodrigo Santoro na capa para chamar a atenção dos leitores e depois oferece conteúdo de primeira. E vem aí a "Brasileiros", comandada pelo trio Nirlando Beirão, Ricardo Kotscho e Hélio Campos Mello. Eu acho que o último foco de resistência do jornalismo está nessas públicações.


Tognolli, coçando o queixo com um bisturi, faz uma careta e rebate.


- A RS te permite fazer jornalismo literário, o que não havia no Brasil. A Piauí é a New Yorker, bonitinha e feita para se ler enquanto se come scoones, às cinco da tarde, jogando-se cricket. Pais “mudernos” lêem Piauí, seus filhos que tocam guitarra ficam com a RS e os filhos que tocam violão ficam com a Caros Amigos. Nos falta agora uma The Economist.


Resolvo cobrir o cadáver e chamar a todos para sair dali. Já na porta que nos leva ao mondo cane de fora, não consigo evitar: penso em reavivamento por eletrochoque. Será que, na contramão do assassinato do jornalismo no morgue Broadcast, não há uma geração – valha o termo – de jornalistas na Internet preocupada com o desgastado "fazer jornalístico" ?


Biajoni, já do lado de fora, ensaia uma resposta, mas estanca. Olha, incrédulo para mim, cai na gargalhada e me chama.

- Rocha ?

- What ?

- Você já pode tirar essa máscara de oxigênio, cabrón.

fevereiro 27, 2007

O estado a que chegamos

A edição de 26/02 do caderno Link, do Estado de São Paulo, deu páginas e páginas sobre as práticas colaborativas de cunho webjornalístico. O repórter Rodrigo Martins ouviu gente boa como Dan Gillmour, JD Lasica, Ana Maria Brambilla e este que vos digita - pena que limitou minha participação a uma frase em um box. Apesar desta pisada de bola - hahaha ! ô ego - e de ter misturado jornalismo participativo/colaborativo/cidadão - sim, há diferenças -, a matéria é leitura recomendada e aponta que os jornalistas que ainda torcem o bico para tal prática não passam de uma cambada de tias velhas.

fevereiro 22, 2007

Ainda sobre Chico Science

Ecoando tambores de maracatu high-tech de um Recife inexistente para mim, alcanço - tardiamente - esse texto. A pergunta final é a mesma que me faço seguidamente.

fevereiro 21, 2007

"Tudo na Globo é tendencioso e manipulado"



Em 15 de março de 1994, o então apresentador - âncora é o cacete ! - do Jornal Nacional, Cid Moreira, leu uma carta escrita por Leonel Brizola como direito de resposta. São os três minutos - no ar, ao vivo, em horário nobre - mais tensos que já vi na história da tv brasileira. Não sou, não fui e nunca serei brizolista - seja lá o que isso significa -, mas vocês não imaginam a satisfação ouvir o Cid Moreira falando a frase que dá título a este post.

A íntegra do direito de resposta pode ser lida aqui.

fevereiro 13, 2007

Jornalismo o que ?

"Então você acha possível um jornalismo independente e imparcial?

Eu acho que o leitor não pode comprar uma mídia só. Se ele ler a Caros Amigos, terá uma visão petista do mundo. Se ele ler a Veja, terá uma visão tucana e pefelista. Ele tem que ler tudo. Uma vez, um procurador me falou uma frase interessante: “é bom quando os gigantes se digladiam, pois a verdade aparece”. Eu acho ótimo que a Caros Amigos defenda o PT cegamente e que a Veja ataque o PT cegamente, pois aí começamos a fazer um juízo de valor a partir da contradição. Nada seria mais chato do que se a imprensa fosse um todo monolítico, pois o que faz avançar a democracia é justamente a contradição. O que não se pode esperar é que lendo a Caros Amigos ou a Veja se tenha uma resposta do mundo, pois as duas revistas são parciais. Na minha opinião, a publicação mais imparcial que tem, por causa de sua independência econômica, é a Folha de São Paulo. É claro que na página de opinião seus colunistas são Sarney, Delfim Neto, etc., mas, na minha avaliação é o veículo brasileiro mais independente."




Cláudio Júlio Tognolli é um dos - poucos, poucos mesmos - jornalistas que admiro. Culpo esse sujeito pela minha insistência em ainda acreditar em um certo tipo de jornalismo. A íntegra da entrevista que ele concedeu para as "recém-jornalistas" Fernanda Abras e Mariana Alves pode ser lida bem aqui, ó.

fevereiro 10, 2007

Sociedade da Raiva - a gênese

14:54 tadeu.sarmento: Estou seriamente pensando em estudar medicina para me especializar em proctologia

pelo menos vou enfiar muito antes de enfiarem em mim

mim: um futuro escolhido a dedo

14:55 ou entao, auto-preenchimentos de vazio interior

tadeu.sarmento: ah ah ah Boa seu Rocha, o senhor está imbatível hoje

mim: to com um humor terrivel, chapa

tadeu.sarmento: Então vamos falar sobre ira

O senhor concorda que vivemos uma época de complacências? de tapinha nas costas?

mim: so na area literaria ou em geral ?

14:57 tadeu.sarmento: Geral, em específico na literária

14:58 mim: na literaria: eu me cansei desse mundo onde sobejam carpinejares e galeras.

14:59 eu tao somente e cada vez mais prezo os meus amigos

15:01 tadeu.sarmento: Tem um filósofo alemão muito bom chamado Peter Sloterdijk

15:02 Li o "Regras para o parque humano" dele (que ainda é vivo)

Mas o fino do tutano de sua obra é um livro chamado "Ira e tempo"

Logo vai sair traduzido para o Brasil

15:03 No "Ira e Tempo" pelo que li na net, ele defende que a ira tem um valor histórico e que reprimi-la gera efeitos paralisantes

15:04 Desde já uma leitura mais que recomendada, assim que sair o livro devemos comprar

Podemos formar uma Sociedade Secreta

Nos juntaremos só para sentir raiva dos outros. Que tal?

mim: somente se rolarem atos raivosos. a expiaçao pela ira, o acerto do mundo pela tormenta sentimental aplacada

tadeu.sarmento: Podemos discutir o assunto, deliberar em assembléia

mim: lembrei agora daquela musica dos inocentes

q dizia

a raiva vai nos salvar

tadeu.sarmento: Fico puto, por exemplo, que escritores só sabem reclamar

Agora com essa bolsa da petrobrás, um monte saiu metendo o pau na iniciativa

tadeu.sarmento: E quando não havia bolsa: reclamavam

15:10 O que fode os escritores é essa postura romântica

De dizer: "não escrevo encomendado"

Acho que isso fere a genialidade açucarada deles

mim: uai, todos nos nao queremos viver de literatura ?

15:11 tadeu.sarmento: O fato é que: não existe encomenda quando opera a fatalidade

Eu, por exemplo, continuarei escrevendo, com ou sem bolsa

15:12 Não vejo mal algum em receber por uma coisa que eu faria e farei mesmo sem um puto no bolso

mim: tadeu, meu caro amigo, vou te falar algo bem serio

[serio mesmo, sem sacanagem, porra !]

a literatura ja me deu o q deveria ter dado

uma esposa, um filho, uma oportunidade em uma outra cidade e amigos importantes como vc

15:13 tadeu.sarmento: Digo o mesmo seu Rocha, só não ganhei o filho (por enquanto)

15:14 O que me entristece é ver um puta escritor - e não estou fazendo média - como você, se cansar dessa merda

Porque é uma merda

E o pior é que o senhor tem razão

Razão de se cansar

15:15 mim: tadeu, a gente faz parte de uma linhagem de escritores q nao interessam, pq nao somos complacentes, fofinhos e micheteiros queridinhos de midia

isso é profundo, politico e contundente ?

nao

so algo da natureza da gente

15:17 tadeu.sarmento: Concordo em gênero número e grau. Mas é uma pena, quer dizer, fico pensando no João Filho, sabe? Que é - na minha opinião - o melhor de todos nós.

15:18 Quer dizer: e nada aconteceu com ele. Só oba-oba.

Isso é triste para caralho

Sorte do João não ter ficado de salto alto na época

Senão teria quebrado o pescoço

Muitos idiotas ficariam, no lugar dele

mim: eu tenho - sempre tive - um medo desgraçado de q o joao fique na merda

15:19 como ja aconteceu com tantos escritores bons

tadeu.sarmento: É disso que estou falando

tadeu.sarmento: E depois, vão dizer: gênio

mim: merda de pais q se compraz com a desgraça dos outros

15:22 tadeu.sarmento: É triste.

Na verdade, a "massa" adora destruir um talento

Como disse Elias Canetti

15:23 tadeu.sarmento: Falo "massa" aqui me referindo a esses escritores médios

e talento me referindo ao João

E o João é um talento nato

Um gênio

15:24 Viver onde ele vivia, e tomar toda aquela convicção - pessoal e literária - ao pé da letra...

Isso para mim é genialidade

15:25 Estou para escrever um texto sobre isso e postar lá no quartinho

Mesmo que seja só para dizer que eu não me esqueci dele.

fevereiro 06, 2007

Sociedade da Raiva

Porque são considerações deste tipo que fazem valer a convivência com irmãos em armas - embora amargada pela distância. Tó pra vocês, chupins desmemoriados !

fevereiro 03, 2007

Honey´s dead

Para Chico Science

Venho trazendo substituição. Da cançãozinha em francês. Tocada no piano. Emulação sacaninha de cancioneiro popular. Pigarro de água salgada contra a areia. Em dois dedos, charuto braseando desditas e baforadas. Enrolo a manga esquerda da camisa. Meu braço: espetado de guimbas. Executo minha catexe no momento da inversão das clavículas. Esboço de caveirinha grafado onde deveria estar rosto humano. Cicatriz em forma de aguilhão. Das tampas metálicas faço meu credo. Silabando dubs em nianja. Na convocação risoflórica: memorabilia. Semi-epilepsia abaixo dos quadris dela, na porta de entrada da percepção, é que me desanuvia. Nimbos que não quero desconjurar. Na fumaça, um espasmo de boemia ela comete. A receitinha. Eu: exucaveiracover. Espírito da idade de Cristo. Entrando agora. O Artrópode Bit me encara. Na puã estendida ? Psychocandy. Um batismo que não se quer aplicar ? No registro: João Batista – ensimesmado, muito prazer. Para este dia: porque outro não há. Ofertório de brown sugar blues pras divindades. Humor debaixo da terra. Ou no quarto lobo do cérebro. Da localização Herophilus atinava ? Não silenciam batucada – molambo eu, molambo tu, molambo eu, molambo tu.


 
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