When the music is over
Que mané miuziquisover. Ainda entôo e vocalizo – só não brado porque a vizinhança já ameaçou chamar a carrocinha – o mantra “o jornalismo morreu”. Mas reconheço que a situação é crítica. Sou abordado nas ruas: ó ali o cara do jornalismo morreu ! Respondo, é claro, com resmungos e impropérios que não pretendo reproduzir aqui – não agora, ao menos. Me sinto um zumbi – se for um daqueles à procura de cérebros, então tá valendo. A sensação aumenta à medida que me encaminho para o crematório desta cidade para verificar se o dito cujo está queimando. Karma to burn, compreende ? Insisto com o mote, me referindo, é claro, ao jornalismo que diz a que veio, que revela seu cunho editorial e que não se atrela a mandos e desmandos. Utópico é o cacete, sujeito !
E olha só onde essa Minha Busca Particular (MBP, como você já bem sabe) me levou. A um necrotério chamado Broadcast. Da janelinha da sala de entrada deste morgue, vejo Cláudio Júlio Tognolli passando na rua. As situações triviais geram boas oportunidades. Como bom espírito-de-porco-que-anda que sou, resolvo lhe pregar uma peça. Abro o basculante e emulo um grunhido de morto-vivo do George Romero.
- Tognoooolli. Aqui é a voooz da sua consciêêêência. O joooornalismo morreeeeeeu ?
[atenção para o merchandising descarado a seguir. que só passou porque é válido e inserido no contexto – eita porra, quem deixou esse paulo francis adentrar o recinto ?]
Em seu quinto livro, “Mídia, Máfias e Rock and Roll”, que será lançado agora em março, pela Editora do Bispo, Tognolli dedica um capítulo ao telejornalismo. Ali ele demonstra como as empresas de telefonia celular compraram boa parte das mídias e estas esqueceram de contar tal fato ao leitor – peraí, isso não soa familiar ? O raciocínio assusta porque é simples. Siga a bolinha.
- A Carta Capital ataca o Daniel Dantas porque defende, sem avisar ao leitor, seu desafeto Luis Demarco, ou mesmo o Carlos Jereissati, dono da Telemar. A Isto É defende o Daniel Dantas, que era dono da Brasil Telecom. A Veja defendia a TIM. Acho ótimo esse ecumenismo. A democracia se faz com base na fricção e contradições. Mas: onde fica o leitor nisso ? Ele não é informado.
Meu acompanhamento deste raciocínio é interrompido por um cheiro lazarento que nem a Desentupidora Rola Bosta – sim, BH tem uma desentupidora com este singelo nome ... – conseguiria dar conta. Estou no lugar certo. Farejo – meu olfato é mais acurado do que o do Wolverine. Letrinhas em decomposição. Imagens putrefatas. Áudios de vermes. Ugh.
“O jornalismo está fedendo, mermão. Morreu faz eras”. O veredicto é de Luiz Biajoni, proferido 25 minutos antes de ele fechar um telejornal e gravar as cabeças. “Eis algo que importa: vão fazer Watchmen”.
Fedeu. A situação já era ruim somente com esse cheiro. E agora essa notícia. Notícia ? Informação ? Jornalismo o que ? Hã ? Hein ? Cuma ? Quequeisso, Biajoni ? “Jornalismo é release. Estudante não sabe os três poderes. ‘O único poder é dinhêro, mermão’, me respondeu um estudante dia desses”.
Então, nicas de compreender o que significa “prática crítica” ? Estamos despejando profissionais adaptadinhos ao tal do pensamento único ? Tognolli, ainda do lado de fora, dá três batidinhas na janela.
- Não há prática crítica. Vejamos a crítica musical: criticar música é no Brasil dar adjetivos a acordes. Quase ninguém que é crítico sabe o que é um acorde musical. Dei a notícia primeiro, tá bom.
Biajoni, equilibrando um CD do Nick Cave na ponta do dedo indicador direito, pondera, pondera, pondera e pondera. Depois chuta. “ Eu acho que o que falta mesmo, de maneira geral, são jornalistas recém-formados que saibam do que se trata o tal jornalismo. Que jornalismo é escrever e buscar fontes e saber onde achar as infos e ter criatividade e persuasão”.
A fedentina aumenta. Parece que quanto mais a gente mexe nisso, mais o futum prolifera. Nojo. Asco. Náusea. Repugnância. Máscara de oxigênio, faz favor. Opa, obrigado, Tom Cardoso.
- O jornalismo não morreu, mas está perto do fim, agonizando. As faculdades de jornalismo são uma piada. Deveriam acabar. É preciso instituir, como faz a OAB, uma prova de redação para quem deseja ter um diploma de jornalismo. Quem tirar abaixo de 7 está proibido de escrever para qualquer veículo, não ganha o MTB.
- Tognolli faz sinal para que saiamos dali e passemos a investigar de onde exala aquela inhaca. Acabamos todos parando no IML, estabacando-nos em uma cena clássica: corpo macilento em mármore gelado. Tom Cardoso, nosso legista cover de plantão, devidamente de posse de um avental branco, destrincha.
- Dos grandes jornais do passado, muitos mudaram a linha editorial para sobreviver e outros estão perto da falência. É o caso do JT (no primeiro caso) e do JB e da Gazeta Mercantil (segundo caso). Esses dois últimos foram comprados pelo Nelson Tanure, um mafioso, lobista, que sonha em ser um novo Chateaubriand. Os que sobreviveram não apresentaram nada de novo nos últimos anos. O Estadão continua sendo o jornal da família Mesquita. O Globo adota o bom-mocismo,o politicamente correto de sempre, sem grandes ousadias - é governista por excelência. A Folha é hoje comandada pelo Otavinho, um nerd, que não quis nascer jornalista, mas nasceu.
Acompanho sem tirar a máscara de oxigênio. E vejo que ali, naquela cavidade, se encontram as revistas. Tom prossegue. Eviscerando.
- A Carta Capital, com Mino à frente, tenta ser uma boa alternativa à mediocridade geral, mas não tem matéria-prima pra isso. Paga mal. Bem, a Veja, e a Isto É e a Época são absolutamente iguais. São hoje revistas de consultório, que rivalizam com Caras, Contigo etc.
Um esguicho de pus e outras gosmas menos cotadas interrompe Tom Cardoso, a tempo de evitar que ele inclua a Capricho nessa leva. Se isso não acontecesse, talvez Biajoni fizesse uma defesa mais apaixonada.
- Tem gente boa na Piauí, assim como tem na Rolling Stone, assim como tem na CAPRICHO. Ei, isso é sério! Minha filha lê CAPRICHO e vejo umas coisas muito interessantes lá ... O chamariz da revista é a futilidade do "novo ídolo", etc ... Assim como o chamariz da Piauí pode ser o chef que faz um texto metido a poético sobre como fazer goiabada.
Peraí, peraí, peraí. Eu me recuso a discutir algo relativo a Capricho – sim, sou um intransigente; eu cuspo em vocês. Vamos organizar isso aqui. Revistas como a Piauí e a versão brasileira da Rolling Stone – guardadas as devidas proporções e para nos atermos a apenas dois exemplos recentes – recuperam o "elán admoestado do jornalismo que diz seu nome ouié " ? Limpando as mãos no avental, Tom Cardoso balança a cabeça, em sinal positivo.
- A primeira está cada vez melhor. Precisa apenas se livrar do Ivan Lessa e do Millôr. A segunda me surpreendeu. Está dando espaço para grandes reportagens e adotou uma estratégia mafiosa, porém louvável. Coloca o Rodrigo Santoro na capa para chamar a atenção dos leitores e depois oferece conteúdo de primeira. E vem aí a "Brasileiros", comandada pelo trio Nirlando Beirão, Ricardo Kotscho e Hélio Campos Mello. Eu acho que o último foco de resistência do jornalismo está nessas públicações.
Tognolli, coçando o queixo com um bisturi, faz uma careta e rebate.
- A RS te permite fazer jornalismo literário, o que não havia no Brasil. A Piauí é a New Yorker, bonitinha e feita para se ler enquanto se come scoones, às cinco da tarde, jogando-se cricket. Pais “mudernos” lêem Piauí, seus filhos que tocam guitarra ficam com a RS e os filhos que tocam violão ficam com a Caros Amigos. Nos falta agora uma The Economist.
Resolvo cobrir o cadáver e chamar a todos para sair dali. Já na porta que nos leva ao mondo cane de fora, não consigo evitar: penso em reavivamento por eletrochoque. Será que, na contramão do assassinato do jornalismo no morgue Broadcast, não há uma geração – valha o termo – de jornalistas na Internet preocupada com o desgastado "fazer jornalístico" ?
Biajoni, já do lado de fora, ensaia uma resposta, mas estanca. Olha, incrédulo para mim, cai na gargalhada e me chama.
- Rocha ?
- What ?
- Você já pode tirar essa máscara de oxigênio, cabrón.
5 Comments:
hmmmm... então esse tal jornalista sai de seu delírium tremens ou sei lá o que e volta por aqui ???
Vixxxxxxxxxxiiii ... e todos estes blogs (não este, é claro) e fuxicos...
Sei lá ...
By Anônimo, at 08:20
esse biajoni é um boçal e além de não ser formado e não ter MTB (hoje nem precisa ser formado para ter MTB, mas mesmo assim ele não quer) também não toca guitarra, conhece um número reduzido de adjetivos e fala mal de si mesmo.
e talvez não tirasse 7 na nota da ordem dos jornalistas do brasil.
talvez ele nunca tenha tirado um só 7 na vida.
:>)
By Biajoni, at 16:48
MTB (Muito Trampo pra Bosta)! Hora precisa de diploma, hora pode ser sem o maldito papel! Jornalista bom!? Jornalismo bom!? QUer dizer, do bem!? Bacana!? Tem, tem sim, ta quase virando folhetin (cousa de tempos da gênese "cronística").
Bacana o texto Jorge, Bacana!!
By Unknown, at 22:22
Parece que temos que tomar cuidado com as tais companhias. Beijus
By Luma Rosa, at 10:12
Continua em forma hein véio JR! O império se expande!
By Vitor Menezes, at 14:07
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