O JORNALISMO MORREU !

março 07, 2006

Porque tudo é fúria, meu chapa

Em uma entrevista dada à revista V, Miele cutuca a lembrança dos “bons tempos” junto a Elis Regina, Tom Jobim, Leila Diniz e Vinícius de Moraes – nada de apego desmedido, mas antes a vontade de encarar o futuro. Memória é mais do que indispensável – seja para não perder sua própria identidade ou fazer jus à importância de determinada pessoa ou acontecimento –, mas ficar atrelado é perda de tempo e aceno de inutilidade para neurônios. É preciso seguir adiante, espanar o pó, enfim, chacoalhar-se.

Mas o que isso tem a ver com uma suposta resenha para 75 kg de músculos e fúria ?

Simples, Pedro Bó. A mesma consideração feita por Miele a respeito de não encarquilhar-se na poeira do tempo pode ser apreendida após a leitura da biografia de Tarso de Castro, escrita pelo (também) jornalista Tom Cardoso. Uma lição que poderia muito bem ser absorvida por Ziraldo, Jaguar e companhia, que insistem/insistiram em publicações como Bundas e Pasquim 21, numas de manter acesa a chama dos 60 e 70 nesses tempos pós-neoliberais (?) e que tais. O efeito ? Uma piada velha reciclada ad infinitum.

Mas vamos ao livro, ora bolas. O tom passional adotado por Tom Cardoso para escrever essa biografia é condizente com o personagem retratado; afinal, os adjetivos “brigão”, “criador de casos” e “sedutor” sempre acompanham alguma definição a respeito de Tarso de Castro. O autor não faz o menor esforço para esconder esse tipo de abordagem e isso dá uma larga vantagem ao leitor – sabemos que é comum em biografias que se idealize o biografado. Ao assumir esse fato, Tom Cardoso faz uma narrativa apaixonada da vida de Tarso de Castro, de suas conquistas amorosas, de seu envolvimento político – desde a Campanha da Legalidade, passando pela resistência à ditadura, até à constante crítica às figuras políticas do fim dos 80 e começo dos 90 –, das aventuras boêmias e da busca por modelos jornalísticos de resistência.

A criação de O Pasquim, as escolhas e abordagens ferinas nos campos político e cultural – assim como o custo de “tamanha ousadia” – e os confrontos editoriais com a ala mais intelectualizada do jornal – leia-se Ziraldo, Millôr Fernandes e Paulo Francis – são relatadas em deliciosas minúcias. Da mesma forma, o autor nos mostra um biografado injuriado com os padrões dos manuais da Folha de São Paulo – para onde voltou, em 1982, escrevendo uma das colunas mais lidas da Ilustrada. Aliás, o título do livro remete ao bordão que Tarso de Castro sempre cometia antes de escrever sua coluna.

Sem riscos, posso afirmar que o Tarso de Castro que sobressai nesta biografia – levando-se em conta a já apontada escolha passional na escrita – é um ser humano apaixonado pela vida – incluindo aí o fervor ao jornalismo que não se conforma. Ou como bem definia um de seus maiores amigos e influência constante, Glauber Rocha – “ele é uma palavra só: coração”. O engraçado, porém trágico, de toda essa história é que a moçada mais jovem – e você confirma estar envelhecendo ao se flagrar escrevendo expressões como essa – não sabe quem foi Tarso de Castro. Experimente, por exemplo, perguntar a algum estudante de Jornalismo, na faixa dos 25 anos, quem foi o criador de O Pasquim. Na seqüência, pergunte quem é seu modelo no jornalismo atual. A resposta talvez possa explicar um pouco sobre os motivos que nos fazem recorrer ao passado, de maneira enfática.

2 Comments:

  • não é atoa que está chegando às livrarias o primeiro volume [de um conjunto de três ou quatro] que reunirá o "best of" do "Pasquim", uma coleção que está sendo organizada pelo Sérgio Augusto e pelo Jaguar. O volume 1 contém os primeiros 150 números [editados de 1969 a 1971].

    o Pasquim - Antologia 1969-1971 - ganhou ☆☆☆ na Folha > não imagino o que isso realmente poderia significar > eu vou conferir!!

    By Anonymous Anônimo, at 10:18  

  • tomara que tarso de castro seja devidamente reconhecido nessa antologia.

    By Blogger Jorge Rocha, at 10:57  

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