Menino dos infernos adentra redação
Rio de Janeiro. 16 de junho de 2006. Por volta das 7 da manhã, o celular do novo jornalista dispara. Emborcado num pijaminha de seda e ainda inebriado pelo vapor etílico da noite anterior, o malaco amaldiçoa a tecnologia digital, antes mesmo de voltar à consciência. Do outro lado da linha, a voz cavernosa deste exucaveiracover exige que ele acione Laurel e Hardy, como se conhece – nas quebradas – seu casal de neurônios.
- Salete, tô na sua rua, porra. Qual é o número do prédio, viado ?
Um balbucio é a resposta, suficientemente inteligível para que a informação requisitada seja compreendida – com um adendo: “fidaputa”. Como é fácil perceber, somos todos criaturas amáveis e gentis.
O porteiro do prédio, encostado na porta, também parece gostar de aporrinhar as pessoas desde cedo; assim que digo meu nome e para qual apartamento estou me dirigindo, ele aperta três vezes o botão do interfone. Do térreo, eu consigo ouvir o zumbido do quinto andar, até que o interfone seja atendido. Ó, tem um sujeito subindo aí, resmungou o porteiro enquanto, num gesto treinado anos a fio, tirava uma meleca, enrolava nos dedos e jogava longe.
Finesse. Elegância. Requinte. Estou no RJ. Perto da Lapa.
Dentro do elevador, encaro a porta pantográfica e solto um muxoxo; não sei porque, mas sempre associo este tipo de porta à decadência fake. Para piorar: mais tarde, Lsd-Boy – padrinho do meu filho – me contaria que Salete havia dito que esta porta lembrava aquelas jaulas submarinas onde mergulhadores se protegem de tubarões. Tem mais: me contou ainda que ele ficava imaginando suas visitas como se fossem tipos variados de predadores marinhos. Só não me disse se tal percepção fora alcançada antes ou depois de ele tomar o Santo Daime, sob os auspícios de fazer uma reportagem.
No entanto, fiquei sem saber se esta foi a porta de entrada para sua recente contratação pelo Jornal do Brasil. Calma que eu explico: Salete, que também atende pela alcunha de Felipe Sáles, é jornalista, graduado em 2004, nascido em Campos-RJ – minha cidade natal –, sujeito de poucas palavras que, por trás dos óculos e sob aquele olhar enevoado, é um dos que entram nessa de experimentar o novo. O sujeito foi contratado pelo JB para escrever matérias no melhor estilo do jornalismo literário. Não vou citar nenhuma das matérias do malaco – corram atrás, hereges –, mas posso dizer que ele ainda nem começou a colocar as manguinhas de fora. O pior ainda está por vir. Oba !
Salete é um cara que vai longe – ainda mais se tiver dinheiro pro táxi.
Por que estou falando desse cara, uma vez que ando perguntando – isso quando não afirmo –: o jornalismo morreu ? Simples, Pedro Bó ! Salete faz parte da nobilíssima Divisão dos Não-Lineares – não vou pagar royalties, Ronaldo Bressane ! – e é uma das minhas apostas no Zombie Journalism. Afinal, o que esperar de um jornalista que tem, na cabeceira, o livro de capa preta de São Cipriano ? Mais: o que esperar que um jornalista que se anima quando me pede uma pauta e eu, só de sacanagem, falo para que ele escreva sobre BDSM no RJ ? Num jornalão (?) ! E o cara topa !
Tenho pena das pobres almas dos leitores.
[alguém aí deu crédito a essa última afirmação ?]
3 Comments:
Acho que eles saberão reconhecer a oportunidade. Beijunda, véio.
By Vitor Menezes, at 16:47
a questao, meu caro vitor, é que o tempo "deles" passa devagar ...
By Jorge Rocha, at 01:24
Hahaha! Como futura jornalista eu devia ter uma opinioão crítica formada, mas no momento me contento em apenas dar boas risadas por este belo texto!
By Anônimo, at 01:14
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