O JORNALISMO MORREU !

abril 29, 2007

Remember

Para que não esqueçamos nunca dos tuiutis, segue imagem do digníssimo tuiuiu.

abril 22, 2007

Coube-lhe a carapuça ?

Enquanto escrevia o texto sobre a invasão dos tuiutis, um dos clones de Keidique saiu de dentro do microondas onde estava aprisionado, subiu na minha mesa de trabalho e colocou o último CD do Tom Zé do player do computador. Quieto estava, quieto fiquei: prescrição médica em relação a momentos freaks. O cover-de-avatar-homuncúlo-de-Fausto-que-anda-e-prolifera começou a se sacudir ao som do batuque, enquanto mudava de forma e incorporava Xico Sá. Aproveitei a onda da invasão e minha última visita ao morgue Broadcast para finalmente transformar este blog em um programa de entrevista:

Recém-formados em Jornalismo saem do curso cientes do que significa "prática crítica" ? Ou estamos despejando profissionais adaptadinhos ao tal do pensamento único ?

Talvez a maior dificuldade seja essa: a devoção, sem questionamento algum, ao pensamento único. Ninguém quebra mais o pau, todo mundo só pensa no seu estagiozinho, no seu empreguinho e dane-se o resto.

Costumo dizer que os melhores jornalistas se encontram hoje – e esse "hoje" pode ser considerado um período longo – fora das redações. Até que ponto eu estou sendo exagerado ?

Sei que pode ficar meio cabotino da minha parte, um sem-redação, confirmar a tese, mas, na boa, estás certíssimo. Não por este mal-diagramado que vos fala, mas por muitos craques de verdade que estão na frilagem geral ou mesmo à margem de tudo. Nos últimos dez anos rolou um processo pesado de enxugamento ou sacanagem mesmo de fato com esses ótimos profissionais que batucavam nas redações, muitos buscaram carreira solo e se deram bem com as suas usinas caseiras de textos

Uma de minhas frases prediletas é "o jornalismo morreu". Me refiro, é claro, ao jornalismo que diz a que veio, que revela seu cunho editorial e que não se atrela a mandos e desmandos – utópico é o cacete. Muita gente fica chocada com a frase. Há motivos ? O jornalismo morreu ?

O jornalismo como na nossa concepção romântica - ou ideal, sabe-se lá - já foi para o espaço ha tempos. Com isso, as condições razoáveis de trabalho, o poder dos jornalistas nas redações (lembro que contestar uma pauta da direção da Folha,por exemplo, pegava bem, era sinal de senso crítico, contestação) também foram para as cucuias ... Hoje só existe obediência cega e medo de perder o emprego ou a boquinha.

Pra não dizerem que não fui implicante e recorrente: revistas como a Piauí e Rolling Stone recuperam o "elán admoestado do jornalismo que diz seu nome" ?

Em reportagens e textos isolados sim, no geral não. A Piaui escorrega num bom-gostismo à New Yorker que às vezes é um saco; a RS se perde na noção do pop brasileiro e elege umas capas, ao meu ver, inteiramente equivocadas. No geral, são duas ilhas onde encontramos, em algumas edições, o chamado prazer do texto.

Estamos realmente presenciando uma geração – valha o termo – de jornalistas na Internet preocupados com o desgastado "fazer jornalístico" ?

Sim, tem muita gente preocupada em, pelo menos, fazer diferente, contar histórias com outra pegada, esquecer os vícios e clichezões do reino de Gutemberg. Gente sem medo de experimentar a nova narrativa da rede.

[nesse momento, a música termina. O avatar “desincorpora”, sacoleja, estrebucha e solta uns trinados que não ouso repetir aqui. Como último suspiro, um recado: “Xico mandou avisar que você ainda deve uma cerveja a ele”.]

abril 18, 2007

A invasão dos tuiutis

Nos últimos dias, meu profile no Orkut e meu email têm sofrido uma invasão. Como se fosse uma cena de “Os Pássaros”, de Hitchcock, estudantes da Universidade do Tuiti do Paraná, em Curitiba, apareceram do nada, perguntando “você é webjornalista ?”. Pergunta esta que era feita quase em uníssono; um tantinho assim e seria possível ouvir um “nunca mais”. Um professor – ou professora; não sei, não conheço, isso nasceu aí – encomendou um trabalho sobre webjornalismo, talvez com o seguinte comando: procurem webjornalistas e perguntem como é a rotina de trabalho deles.

A maior parte dos alunos que me contatou por email chegou até meu nome por conta de buscadores – vá lá, faça você também um teste com tua search engine predileta. O pedido de todos eles: uma entrevista. Chegou um ponto em que cansei de responder que não trabalho como webjornalista – ao menos, não do modo que eles pensam –, mas que sou professor de Jornalismo Digital I e II da Universidade Fumec e responsável por este site-laboratório. Como a invasão não cessava e as perguntas eram basicamente as mesmas, resolvi responder as que todos abordaram e publicar bem aqui. Não sei quanto a de vocês, universitários da UTP – emails sugerindo novos significados para esta sigla serão bem-vindos –, mas isso facilita minha vida. Be cool.

Como é a rotina do trabalho de um webjornalista?

Depende do que você chama de webjornalista. E da publicação webjornalística. A rotina produtiva deste profissional difere em relação a portais, versões online de outras mídias e publicações que não possuem versão offline. No caso do site de Jornalismo Digital que coordeno, os alunos têm contato com várias modalidades práticas, desde atualização constante até apuração e forma de escrita mais apurada nas matérias especiais. Mas a idéia central é pensar em uma linguagem apropriada para esta mídia, tendo sempre em mente um processamento cognitivo que não seja atrelado a modus operandi massivo.

Por que resolveu seguir essa área?

Justamente por conta das potencialidades de um meio de comunicação não-massivo, que proporciona práticas como o Webjornalismo Participativo.

Porque o jornalismo on line tem crescido muito nos últimos tempos ?

Pelas possibilidades interacionais viáveis, pela contraposição de informações e pela diferenciação comunicacional não-massiva. Claro que há outros fatores mais; no entanto, acredito que estes têm se mostrado alguns dos mais representativos e que merecem uma atenção especial quando analisados.

Que dica daria para quem quer seguir essa área?

A primeira providência: se você estiver na Universidade do Tuiuti, cante como um tuiuiú. Segundo: buscar a tal da diferenciação comunicacional não-massiva que citei ali em cima. Ou seja, pensar na Internet e não para a Internet.

abril 16, 2007

Probloggers, cibernarrativas e webjornalismo participativo

Manja o II Seminário sobre Convergência Digital e Cibercultura que coordenei na Universidade Fumec ? Confira a cobertura do primeiro, segundo e terceiro dia.

abril 11, 2007

Na conta do ExuCaveiraCover

Jealous, Offensive Rage-Gripped Explorer-Reaping Ogre from the Creepy Haunted Abbey


Get Your Monster Name

abril 06, 2007

Digite literatura

Um assobio me comunica: tenho mensagem na caixa de email. Uma encomenda: averiguar até que ponto arte e tecnologia se contaminam. Para encontrar as devidas referências, contrato Keidique, o avatar-que-anda, como meu assistente e exu caveira digital. Keidique tem a seguinte configuração: assumir a personalidade de qualquer pensador que lide com as novas tecnologias de informação e comunicação. Seu primeiro movimento é incorporar Lev Manovich. Dá-se o enunciado: "com bancos de dados, espaços navegáveis, simulação e interatividade, novas formas culturais possibilitadas pela mídia também incluem novos padrões de comunicação social". Recombinação me parece a palavra-chave mais adequada para este momento. Keidique gesticula e aparece em meu monitor o site da Ciclope – anote aí: http://www.ciclope.art.br -, ateliê digital responsável pelo Sítio da Imaginação, entre tantos outros projetos que buscam uma linguagem estética e comunicacional para o meio digital.

Keidique emula telepatia de Aquaman e entra em contato com Álvaro Andrade Garcia, diretor de produções audiovisuais e multimídia da Ciclope. Na transmissão de pensamento uma só pergunta: em que momento e sentido a tecnologia digital estabelece ou ajuda a desenvolver uma linguagem artística diferenciada do habitual ?

- Eu tenho trabalhado e pesquisado muito a Imaginação Digital, que busca uma nova metáfora para a informação digital. A idéia é desenvolver uma linguagem a partir da metáfora da mente e estruturá-la a partir da poiesis. Páginas web e consoles são substituídos nos meus trabalhos por imagens mixadas e sequenciadas, interativas, que se animam em fluxos interativos com o usuário e sujeitos à gestão computacional usando inteligência artificial e outros métodos – videodromea Álvaro.

Enquanto eu rumino as últimas informações, Keidique, agora invocando Steven Johnson, escala minha estante e joga um livro na minha cabeça. Trata-se de Cultura da Interface, do próprio autor encarnado por Keidique. Terrível simetria, hein ? O Grande Ensinamento Contido Nesse Livro (GECNL para os iniciados) é absurdamente simples: com a tecnologia digital, nosso modo sensorial potencialmente avança em parâmetros difíceis de aferir com medidas próprias para os meios de comunicação de massa. Levanto a sombrancelha esquerda, pensando nas possibilidades cognitivas desta mudança em relação a quem produz e – valha o termo – consome arte. Começo a entabular uma questão quando, do lado de fora de minha janela, em um outdoor luminoso, surge o rosto do professor da PUC Minas, Carlos Henrique Falci, que pesquisa cibernarrativas e produções colaborativas.

- O que me parece mudar em termos de percepção é o desafio de consumir algo que eu mesmo posso produzir, em função de uma provocação qualquer feita por um meta-autor. Não é só o fato das obras serem processuais, é o fato delas serem processos que devem ser, vá lá, iniciados pelo receptor-participante, pelo interagente, por aquele que irá experimentá-la – vaticina Falci.

Como a perceber um clima Blade Runner se fechando à minha volta. Pondero que a interconectividade é deus ex machina anunciando game over como novo mandamento para nossa percepção massiva. Meu celular bipa, atingido por um SMS do professor do Cefet-MG, Rogério Barbosa, que pesquisa poesia contemporânea brasileira e portuguesa, com especial enfoque nas poéticas experimentais e digitais:

- Retomando Karl Marx, o poeta e antropólogo António Risério, em seu importante “Ensaio sobre o texto poético em contexto digital”, coloca-nos a pergunta, feita pelo pensador alemão: Aquiles seria possível na época da pólvora, da bala e das armas portáteis? E seria possível a Ilíada quando existem prensa tipográfica e impressora? Risério entende que a resposta é negativa, pois “as novas tecnologias alteram a estrutura de nossos interesses: as coisas sobre as quais pensamos. Alteram o caráter dos nossos símbolos: as coisas com que pensamos.”

Paro a leitura e estranho. Keidique está quieto demais. Deixo de lado. Volto a me concentrar na leitura da mensagem de Rogério Barbosa.

- Essa alteração perceptiva ou cognoscitiva de que falam Risério e Gisele Beiguelman só se apresenta para aqueles que tratam as novas mídias como um sistema a ser explorado, como uma linguagem a ser subtraída do utilitarismo ou da convenção que engessa.

Coço o cavanhaque – sinal de que estou metabolizando esta informação sobre arte e tecnologia. Nada a ver com performances. O outdoor volta a pipocar lá fora. “Não mesmo”, reitera Falci. E prossegue: “afinal, performar algo é experimentar o processo de criar esse algo, como penso. A questão é que hoje a tecnologia digital me parece suficientemente maleável para ser e parecer ao mesmo tempo objeto e processo”. Ao mesmo tempo ob... É justamente neste momento que me dou conta de que há cópias do avatar-que-anda correndo pela casa. Malditos memes ! Sinto que meu trabalho por aqui ainda não terminou.


[Texto feito sob encomenda - de Ana Elisa Ribeiro - para a edição de abril de Letras do Café, jornal da livraria multifunção Café com Letras, de Belo Horizonte]


 
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