Andei rezando para totens – e Jesus ?
O jornalismo morreu ? Eis aí, eis aí Minha Busca Particular (MBP), questão que não canso de repetir como um mantra. Já fui macaco em domingos glaciais, assim como você, Raul, mas nunca parei realmente para contar os jornalistas em que confio – e confiança aí não diz respeito “apenas” à credibilidade. Tem relação ainda com o fato de saber/compreender que alguns de nós andam descontentes e desconfiados com o jornalismo que tem sido praticado há um certo tempo – sim, “há um certo tempo” é uma expressão incerta; assim “como esses dias”.
Uma das jornalistas que compartilha comigo essa descrença em relação à profissão de reempacotar notícias é Alessandra Nahra Leal – que também não está mais em redação, hoje trabalhando como arquiteta da informação e editora de conteúdo corporativo. Minha cara amiga me diz que não acredita em jornalismo desde seu primeiro ano de redação. Balde de água fria para quem está cursando Comunicação Social ? Injeção de sódio tiopental em jornalistas ? Nem. Trata-se de lucidez, Raul - algo que encontro em poucas pessoas ultimamente. Um tanto de realidade que deve fazer bem – isso se não mudaram as regras enquanto eu estive fora desse blog. Vejamos o que ela tem a dizer:
- Tem ainda alguma coisa que pode ser chamada de bom jornalismo, mas é pouco. Põe aí uma meia dúzia de gente séria, que consegue driblar as exigências desta entidade chamada "mercado" - não o de trabalho, o de vender/comprar mesmo, que é o que realmente manda nos veículos de imprensa. O resto é desprezível.
Ale Nahra Leal fala com propriedade de quem já trabalhou na Istoé – isso nos idos anos 90 – e manja as manhas das internas das redações. Acompanhei seu trabalho à distância nessa revista de informação – he he he -, e em alguns fanzines de Sylvio Ayala, malaco porto-alegrense que bancou o mítico jornal O Bobo da Corte – também nos anos 90. Mas foi somente em 2004 que passamos realmente a conversar.
Senta que lá vem história, Raul:
Esbarrei – mesmo – em Ale durante a I Horrorcon, evento realizado em SP e que reuniu fãs de filmes de terror. No Sesc de Vila Mariana, em 1995, salvo engano. Ela, trabalhando na IstoÉ. Eu, convocado pelo videasta trash Petter Baiestorf para tomar umas e outras, além de chutar os rabos dos desavisados. Ale foi encarregada de entrevistar Baiestorf e aproximou-se dele no momento em que eu estava saindo para procurar uma cerveja; o esbarrão foi inevitável e simbólico. Única vez - que eu saiba - que estivemos no mesmo local, na mesma hora. Momentos depois, Baiestorf haveria de me contar que aquela menina era repórter da IstoÉ. Claro, perguntei se ele lembrava do nome dela, só para amaldiçoar a resposta a seguir. Deixei esse desencontro de lado, até 2004, quando encontrei – não lembro como ou por que; maldita senilidade ! – Ale no Orkut. Uma amizade atrasada em 9 anos; mas nenhum descaminho é torto o bastante.
Percebem a intrincada conexão que acaba unindo os malacos do mundo ?
E as mensagens que me chegam sem parar ? Ninguém pode notar – estão muito ocupados pra pensar, Raul. Talvez sejam justamente esses caminhos tortos que façam pessoas como eu, Ale e outros mais encucarem com os desatinos do raio dessa profissão que acabamos por escolher. Eu, tentando verificar se o zombie journalism domina o mundo. Ela, temerosa que eu realmente não encontre “o bicho vivo”.
- Se achar, me avisa. Vai ser um prazer encontrá-lo novamente.
Esperta – não é à toa que caiu fora das redações, Raul -, Ale deixa uma provável pista sobre uma possível sobrevida do nosso alvo: um artigo de seu ex-editor de Istoé, Nunzio Briguglio, “jornalista das antigas, do tempo em que jornalismo ainda existia”, no Comunique-se. Você leu esse artigo, Cardoso ? Talvez não, mas sei que você tem uma opinião bem embasada a respeito do terrível mote “o jornalismo morreu ?”. Fala que eu te escuto:
- Não sei não, mas acho que o jornalismo de BROADCAST, sobretudo no Brasil, nunca foi JORNALISMO de verdade, ou, pelo menos, não no mesmo sentido que o termo tem para os norte-americanos, por exemplo. As boas novas é que vivemos em um imenso ponto de virada, no qual o poder sobre a produção e disseminação da informação está sendo gradualmente RETIRADO das mãos das grandes empresas de comunicação e passando para as mãos do PÚBLICO.
Assino embaixo. Em caps lock, é claro. Meu apreço por Cardoso não reside apenas no fato de que ele pariu o CardosoOnLine ou porque se enquadrou na categoria de webshaman extraordinaire, mas também porque é um jornalista que se preocupa com a qualidade da informação. Tem sangue nos jornais ? Quente, nas veias dos jornalistas nas redações, talvez não, Raul. Se eu tivesse um jornal ou voltasse a trabalhar como editor em um, Cardoso seria um dos convocados para sacudir as estruturas modorrentas dos “veículos de comunicação” – dia desses ainda boto a lista completa nesse blog, aproveitando para pedir patrocínio. Como não pensar em trabalhar jornalismo com um malaco que considera o seguinte:
- Vejo com muito bons olhos a DERROCADA incrível pela qual a imprensa MAINSTREAM brasileira começa a passar. Preste atenção nas mudanças que já aparecem, como o sutil posicionamento dos apresentadores do Jornal Nacional sobre determinados assuntos, sobretudo com a construção de períodos irônicos, entonações debochadas e caretas. Vai por mim: o barco tá virando e as coisas estão mudando. Cinco a dez anos. Mas tamos no caminho certo.
Você concorda, Ronaldo Bressane ?
- Quem ? Quando ? Onde ? Como ? Por quê ?