O JORNALISMO MORREU !

maio 25, 2007

Imprimatur de exucaveiracover

Atenção, tuiuius ! Este blog agora é arquivo morto - o que é apropriado para um exucaveiracover. A partir de hoje estou oficialmente aqui. Culpem Tiago Casagrande.

maio 15, 2007

Três ratos cegos

1) Agora escrevo também aqui.

2)
Não tenho mais paciência com o template deste blog.

3) Estou de mudança.

abril 29, 2007

Remember

Para que não esqueçamos nunca dos tuiutis, segue imagem do digníssimo tuiuiu.

abril 22, 2007

Coube-lhe a carapuça ?

Enquanto escrevia o texto sobre a invasão dos tuiutis, um dos clones de Keidique saiu de dentro do microondas onde estava aprisionado, subiu na minha mesa de trabalho e colocou o último CD do Tom Zé do player do computador. Quieto estava, quieto fiquei: prescrição médica em relação a momentos freaks. O cover-de-avatar-homuncúlo-de-Fausto-que-anda-e-prolifera começou a se sacudir ao som do batuque, enquanto mudava de forma e incorporava Xico Sá. Aproveitei a onda da invasão e minha última visita ao morgue Broadcast para finalmente transformar este blog em um programa de entrevista:

Recém-formados em Jornalismo saem do curso cientes do que significa "prática crítica" ? Ou estamos despejando profissionais adaptadinhos ao tal do pensamento único ?

Talvez a maior dificuldade seja essa: a devoção, sem questionamento algum, ao pensamento único. Ninguém quebra mais o pau, todo mundo só pensa no seu estagiozinho, no seu empreguinho e dane-se o resto.

Costumo dizer que os melhores jornalistas se encontram hoje – e esse "hoje" pode ser considerado um período longo – fora das redações. Até que ponto eu estou sendo exagerado ?

Sei que pode ficar meio cabotino da minha parte, um sem-redação, confirmar a tese, mas, na boa, estás certíssimo. Não por este mal-diagramado que vos fala, mas por muitos craques de verdade que estão na frilagem geral ou mesmo à margem de tudo. Nos últimos dez anos rolou um processo pesado de enxugamento ou sacanagem mesmo de fato com esses ótimos profissionais que batucavam nas redações, muitos buscaram carreira solo e se deram bem com as suas usinas caseiras de textos

Uma de minhas frases prediletas é "o jornalismo morreu". Me refiro, é claro, ao jornalismo que diz a que veio, que revela seu cunho editorial e que não se atrela a mandos e desmandos – utópico é o cacete. Muita gente fica chocada com a frase. Há motivos ? O jornalismo morreu ?

O jornalismo como na nossa concepção romântica - ou ideal, sabe-se lá - já foi para o espaço ha tempos. Com isso, as condições razoáveis de trabalho, o poder dos jornalistas nas redações (lembro que contestar uma pauta da direção da Folha,por exemplo, pegava bem, era sinal de senso crítico, contestação) também foram para as cucuias ... Hoje só existe obediência cega e medo de perder o emprego ou a boquinha.

Pra não dizerem que não fui implicante e recorrente: revistas como a Piauí e Rolling Stone recuperam o "elán admoestado do jornalismo que diz seu nome" ?

Em reportagens e textos isolados sim, no geral não. A Piaui escorrega num bom-gostismo à New Yorker que às vezes é um saco; a RS se perde na noção do pop brasileiro e elege umas capas, ao meu ver, inteiramente equivocadas. No geral, são duas ilhas onde encontramos, em algumas edições, o chamado prazer do texto.

Estamos realmente presenciando uma geração – valha o termo – de jornalistas na Internet preocupados com o desgastado "fazer jornalístico" ?

Sim, tem muita gente preocupada em, pelo menos, fazer diferente, contar histórias com outra pegada, esquecer os vícios e clichezões do reino de Gutemberg. Gente sem medo de experimentar a nova narrativa da rede.

[nesse momento, a música termina. O avatar “desincorpora”, sacoleja, estrebucha e solta uns trinados que não ouso repetir aqui. Como último suspiro, um recado: “Xico mandou avisar que você ainda deve uma cerveja a ele”.]

abril 18, 2007

A invasão dos tuiutis

Nos últimos dias, meu profile no Orkut e meu email têm sofrido uma invasão. Como se fosse uma cena de “Os Pássaros”, de Hitchcock, estudantes da Universidade do Tuiti do Paraná, em Curitiba, apareceram do nada, perguntando “você é webjornalista ?”. Pergunta esta que era feita quase em uníssono; um tantinho assim e seria possível ouvir um “nunca mais”. Um professor – ou professora; não sei, não conheço, isso nasceu aí – encomendou um trabalho sobre webjornalismo, talvez com o seguinte comando: procurem webjornalistas e perguntem como é a rotina de trabalho deles.

A maior parte dos alunos que me contatou por email chegou até meu nome por conta de buscadores – vá lá, faça você também um teste com tua search engine predileta. O pedido de todos eles: uma entrevista. Chegou um ponto em que cansei de responder que não trabalho como webjornalista – ao menos, não do modo que eles pensam –, mas que sou professor de Jornalismo Digital I e II da Universidade Fumec e responsável por este site-laboratório. Como a invasão não cessava e as perguntas eram basicamente as mesmas, resolvi responder as que todos abordaram e publicar bem aqui. Não sei quanto a de vocês, universitários da UTP – emails sugerindo novos significados para esta sigla serão bem-vindos –, mas isso facilita minha vida. Be cool.

Como é a rotina do trabalho de um webjornalista?

Depende do que você chama de webjornalista. E da publicação webjornalística. A rotina produtiva deste profissional difere em relação a portais, versões online de outras mídias e publicações que não possuem versão offline. No caso do site de Jornalismo Digital que coordeno, os alunos têm contato com várias modalidades práticas, desde atualização constante até apuração e forma de escrita mais apurada nas matérias especiais. Mas a idéia central é pensar em uma linguagem apropriada para esta mídia, tendo sempre em mente um processamento cognitivo que não seja atrelado a modus operandi massivo.

Por que resolveu seguir essa área?

Justamente por conta das potencialidades de um meio de comunicação não-massivo, que proporciona práticas como o Webjornalismo Participativo.

Porque o jornalismo on line tem crescido muito nos últimos tempos ?

Pelas possibilidades interacionais viáveis, pela contraposição de informações e pela diferenciação comunicacional não-massiva. Claro que há outros fatores mais; no entanto, acredito que estes têm se mostrado alguns dos mais representativos e que merecem uma atenção especial quando analisados.

Que dica daria para quem quer seguir essa área?

A primeira providência: se você estiver na Universidade do Tuiuti, cante como um tuiuiú. Segundo: buscar a tal da diferenciação comunicacional não-massiva que citei ali em cima. Ou seja, pensar na Internet e não para a Internet.

abril 16, 2007

Probloggers, cibernarrativas e webjornalismo participativo

Manja o II Seminário sobre Convergência Digital e Cibercultura que coordenei na Universidade Fumec ? Confira a cobertura do primeiro, segundo e terceiro dia.

abril 11, 2007

Na conta do ExuCaveiraCover

Jealous, Offensive Rage-Gripped Explorer-Reaping Ogre from the Creepy Haunted Abbey


Get Your Monster Name

abril 06, 2007

Digite literatura

Um assobio me comunica: tenho mensagem na caixa de email. Uma encomenda: averiguar até que ponto arte e tecnologia se contaminam. Para encontrar as devidas referências, contrato Keidique, o avatar-que-anda, como meu assistente e exu caveira digital. Keidique tem a seguinte configuração: assumir a personalidade de qualquer pensador que lide com as novas tecnologias de informação e comunicação. Seu primeiro movimento é incorporar Lev Manovich. Dá-se o enunciado: "com bancos de dados, espaços navegáveis, simulação e interatividade, novas formas culturais possibilitadas pela mídia também incluem novos padrões de comunicação social". Recombinação me parece a palavra-chave mais adequada para este momento. Keidique gesticula e aparece em meu monitor o site da Ciclope – anote aí: http://www.ciclope.art.br -, ateliê digital responsável pelo Sítio da Imaginação, entre tantos outros projetos que buscam uma linguagem estética e comunicacional para o meio digital.

Keidique emula telepatia de Aquaman e entra em contato com Álvaro Andrade Garcia, diretor de produções audiovisuais e multimídia da Ciclope. Na transmissão de pensamento uma só pergunta: em que momento e sentido a tecnologia digital estabelece ou ajuda a desenvolver uma linguagem artística diferenciada do habitual ?

- Eu tenho trabalhado e pesquisado muito a Imaginação Digital, que busca uma nova metáfora para a informação digital. A idéia é desenvolver uma linguagem a partir da metáfora da mente e estruturá-la a partir da poiesis. Páginas web e consoles são substituídos nos meus trabalhos por imagens mixadas e sequenciadas, interativas, que se animam em fluxos interativos com o usuário e sujeitos à gestão computacional usando inteligência artificial e outros métodos – videodromea Álvaro.

Enquanto eu rumino as últimas informações, Keidique, agora invocando Steven Johnson, escala minha estante e joga um livro na minha cabeça. Trata-se de Cultura da Interface, do próprio autor encarnado por Keidique. Terrível simetria, hein ? O Grande Ensinamento Contido Nesse Livro (GECNL para os iniciados) é absurdamente simples: com a tecnologia digital, nosso modo sensorial potencialmente avança em parâmetros difíceis de aferir com medidas próprias para os meios de comunicação de massa. Levanto a sombrancelha esquerda, pensando nas possibilidades cognitivas desta mudança em relação a quem produz e – valha o termo – consome arte. Começo a entabular uma questão quando, do lado de fora de minha janela, em um outdoor luminoso, surge o rosto do professor da PUC Minas, Carlos Henrique Falci, que pesquisa cibernarrativas e produções colaborativas.

- O que me parece mudar em termos de percepção é o desafio de consumir algo que eu mesmo posso produzir, em função de uma provocação qualquer feita por um meta-autor. Não é só o fato das obras serem processuais, é o fato delas serem processos que devem ser, vá lá, iniciados pelo receptor-participante, pelo interagente, por aquele que irá experimentá-la – vaticina Falci.

Como a perceber um clima Blade Runner se fechando à minha volta. Pondero que a interconectividade é deus ex machina anunciando game over como novo mandamento para nossa percepção massiva. Meu celular bipa, atingido por um SMS do professor do Cefet-MG, Rogério Barbosa, que pesquisa poesia contemporânea brasileira e portuguesa, com especial enfoque nas poéticas experimentais e digitais:

- Retomando Karl Marx, o poeta e antropólogo António Risério, em seu importante “Ensaio sobre o texto poético em contexto digital”, coloca-nos a pergunta, feita pelo pensador alemão: Aquiles seria possível na época da pólvora, da bala e das armas portáteis? E seria possível a Ilíada quando existem prensa tipográfica e impressora? Risério entende que a resposta é negativa, pois “as novas tecnologias alteram a estrutura de nossos interesses: as coisas sobre as quais pensamos. Alteram o caráter dos nossos símbolos: as coisas com que pensamos.”

Paro a leitura e estranho. Keidique está quieto demais. Deixo de lado. Volto a me concentrar na leitura da mensagem de Rogério Barbosa.

- Essa alteração perceptiva ou cognoscitiva de que falam Risério e Gisele Beiguelman só se apresenta para aqueles que tratam as novas mídias como um sistema a ser explorado, como uma linguagem a ser subtraída do utilitarismo ou da convenção que engessa.

Coço o cavanhaque – sinal de que estou metabolizando esta informação sobre arte e tecnologia. Nada a ver com performances. O outdoor volta a pipocar lá fora. “Não mesmo”, reitera Falci. E prossegue: “afinal, performar algo é experimentar o processo de criar esse algo, como penso. A questão é que hoje a tecnologia digital me parece suficientemente maleável para ser e parecer ao mesmo tempo objeto e processo”. Ao mesmo tempo ob... É justamente neste momento que me dou conta de que há cópias do avatar-que-anda correndo pela casa. Malditos memes ! Sinto que meu trabalho por aqui ainda não terminou.


[Texto feito sob encomenda - de Ana Elisa Ribeiro - para a edição de abril de Letras do Café, jornal da livraria multifunção Café com Letras, de Belo Horizonte]

março 29, 2007

Sodomizing a grand piano

março 20, 2007

A moleskine song

Caught her moleskine and read

“Vengeance dresses crisp cotton

Blessed are the no-hearted girls

Wait till you´ve been anointed”

I know that´s not some cheap talk

Hail, hail

Absence of several sins

She´s a drumkicker housewife

She´s a pig-nosed Sister Hyde

She´s Alice with a carving knife

She´s a busy bee in an Artic ice

Hear her one-knuckled knock

Hail, hail

Absence of several sins

I´m her cathodic skin lizard

Chiselled with Morse code

You can call me Gasoline

Videodrome tough dope fiend

Together we´re a kind of scum


Hail, hail

Absence of several sins


[da série "uma letra em busca de melodia"]


março 14, 2007

Enquanto isso, na Sala da Justiça ...

II Seminário sobre Convergência Digital e Cibercultura


Data: 26, 27 e 28 de março de 2007

Local: Auditório Phoenix

Horário: 9:20 às 11h


inscrições: http://www.pontoeletronico.fumec.br


Programação:

Dia 26


Estratégias e vivências profissionais na cibercultura


"Desenvolvimento de software visando à usabilidade"

Ana Paula Atayde

Synergia - Núcleo de Engenharia de Software – Departamento de Ciências da Comunicação da UFMG


"Portal de blogs: um experiência profissional brasileira"

Edney Souza

Dia 27


Registros informacionais em ambiente digital


"Memórias em cibernarrativas"

Carlos Henrique Falci

PUC-Minas


"Sítio da Imaginação"

Lucas Junqueira

Ciclope


Dia 28


Participação e interação em sistemas colaborativos

"Jornalismo e tecnologia: as estratégias colaborativas em OhmyNews International

Ana Maria Brambilla

Pesquisadora de Jornalismo Colaborativo


"De gatekeeper a cartógrafo de informação"

Fernanda Abras e Pedro Penido

(Ex-alunos da Fumec)


Workshop sobre Jornalismo Colaborativo

Ana Maria Brambilla

Laboratório 3

14 às 16h


Participantes:

Ana Maria Brambilla é jornalista, mestre em comunicação. Nascida em Porto Alegre, dedica-se a pesquisas em mídias digitais e jornalismo colaborativo. É editora assistente de Internet da Editora Abril, em São Paulo e colaboradora do noticiário sul-coreano OhmyNews International. Mantém o blog http://www.anabrambilla.com/blog


Ana Paula Atayde possui graduação e mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professora no curso de Sistemas da Informação – Cotemig - e gerente de usabilidade - Synergia. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de software e Engenharia de usabilidade.


Carlos Henrique Falci é doutorando em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais e atualmente desenvolve pesquisa financiada pela PUC Minas sobre cibernarrativas e produção colaborativa. Pesquisador associado ao grupo de pesquisa "Comunicação e redes hipermidiáticas", organizou o livro "Cultura em fluxo, novas mediações em rede", publicado pela editora da PUC em 2004. É professor da PUC Minas na área de Hipermídia e cibercultura.


Edney Souza é formado em Processamento de Dados pela Universidade Mackenzie. Trabalha no ramo de Informática ha 16 anos, desenvolvendo sistemas para o mercado de ERP. Desde 2005 vive apenas de seu website interney.net. Desenvolveu junto com Alexandre Inagaki o primeiro portal de blogs profissionais do Brasil.


Fernanda Abras é graduada em Jornalismo pela Universidade Fumec.


Lucas Junqueira é graduado em Engenharia Química pela UFMG, em 1998, com concentração na simulação de processos químicos por software. Atua na programação multimídia desde sua graduação, na criação de sites para a Internet, softwares de apresentação e jogos eletrônicos para as plataformas PC e Macintosh. Tem se dedicado às produções do ateliê de arte digital Ciclope - http://www.ciclope.art.br


Pedro Penido é graduado em Jornalismo pela Universidade Fumec

fevereiro 28, 2007

When the music is over

Que mané miuziquisover. Ainda entôo e vocalizo – só não brado porque a vizinhança já ameaçou chamar a carrocinha – o mantra “o jornalismo morreu”. Mas reconheço que a situação é crítica. Sou abordado nas ruas: ó ali o cara do jornalismo morreu ! Respondo, é claro, com resmungos e impropérios que não pretendo reproduzir aqui – não agora, ao menos. Me sinto um zumbi – se for um daqueles à procura de cérebros, então tá valendo. A sensação aumenta à medida que me encaminho para o crematório desta cidade para verificar se o dito cujo está queimando. Karma to burn, compreende ? Insisto com o mote, me referindo, é claro, ao jornalismo que diz a que veio, que revela seu cunho editorial e que não se atrela a mandos e desmandos. Utópico é o cacete, sujeito !

E olha só onde essa Minha Busca Particular (MBP, como você já bem sabe) me levou. A um necrotério chamado Broadcast. Da janelinha da sala de entrada deste morgue, vejo Cláudio Júlio Tognolli passando na rua. As situações triviais geram boas oportunidades. Como bom espírito-de-porco-que-anda que sou, resolvo lhe pregar uma peça. Abro o basculante e emulo um grunhido de morto-vivo do George Romero.

- Tognoooolli. Aqui é a voooz da sua consciêêêência. O joooornalismo morreeeeeeu ?

[atenção para o merchandising descarado a seguir. que só passou porque é válido e inserido no contexto – eita porra, quem deixou esse paulo francis adentrar o recinto ?]

Em seu quinto livro, “Mídia, Máfias e Rock and Roll”, que será lançado agora em março, pela Editora do Bispo, Tognolli dedica um capítulo ao telejornalismo. Ali ele demonstra como as empresas de telefonia celular compraram boa parte das mídias e estas esqueceram de contar tal fato ao leitor – peraí, isso não soa familiar ? O raciocínio assusta porque é simples. Siga a bolinha.

- A Carta Capital ataca o Daniel Dantas porque defende, sem avisar ao leitor, seu desafeto Luis Demarco, ou mesmo o Carlos Jereissati, dono da Telemar. A Isto É defende o Daniel Dantas, que era dono da Brasil Telecom. A Veja defendia a TIM. Acho ótimo esse ecumenismo. A democracia se faz com base na fricção e contradições. Mas: onde fica o leitor nisso ? Ele não é informado.

Meu acompanhamento deste raciocínio é interrompido por um cheiro lazarento que nem a Desentupidora Rola Bosta – sim, BH tem uma desentupidora com este singelo nome ... – conseguiria dar conta. Estou no lugar certo. Farejo – meu olfato é mais acurado do que o do Wolverine. Letrinhas em decomposição. Imagens putrefatas. Áudios de vermes. Ugh.

“O jornalismo está fedendo, mermão. Morreu faz eras”. O veredicto é de Luiz Biajoni, proferido 25 minutos antes de ele fechar um telejornal e gravar as cabeças. “Eis algo que importa: vão fazer Watchmen”.

Fedeu. A situação já era ruim somente com esse cheiro. E agora essa notícia. Notícia ? Informação ? Jornalismo o que ? Hã ? Hein ? Cuma ? Quequeisso, Biajoni ? “Jornalismo é release. Estudante não sabe os três poderes. ‘O único poder é dinhêro, mermão’, me respondeu um estudante dia desses”.

Então, nicas de compreender o que significa “prática crítica” ? Estamos despejando profissionais adaptadinhos ao tal do pensamento único ? Tognolli, ainda do lado de fora, dá três batidinhas na janela.

- Não há prática crítica. Vejamos a crítica musical: criticar música é no Brasil dar adjetivos a acordes. Quase ninguém que é crítico sabe o que é um acorde musical. Dei a notícia primeiro, tá bom.

Biajoni, equilibrando um CD do Nick Cave na ponta do dedo indicador direito, pondera, pondera, pondera e pondera. Depois chuta. “ Eu acho que o que falta mesmo, de maneira geral, são jornalistas recém-formados que saibam do que se trata o tal jornalismo. Que jornalismo é escrever e buscar fontes e saber onde achar as infos e ter criatividade e persuasão”.

A fedentina aumenta. Parece que quanto mais a gente mexe nisso, mais o futum prolifera. Nojo. Asco. Náusea. Repugnância. Máscara de oxigênio, faz favor. Opa, obrigado, Tom Cardoso.

- O jornalismo não morreu, mas está perto do fim, agonizando. As faculdades de jornalismo são uma piada. Deveriam acabar. É preciso instituir, como faz a OAB, uma prova de redação para quem deseja ter um diploma de jornalismo. Quem tirar abaixo de 7 está proibido de escrever para qualquer veículo, não ganha o MTB.

- Tognolli faz sinal para que saiamos dali e passemos a investigar de onde exala aquela inhaca. Acabamos todos parando no IML, estabacando-nos em uma cena clássica: corpo macilento em mármore gelado. Tom Cardoso, nosso legista cover de plantão, devidamente de posse de um avental branco, destrincha.

- Dos grandes jornais do passado, muitos mudaram a linha editorial para sobreviver e outros estão perto da falência. É o caso do JT (no primeiro caso) e do JB e da Gazeta Mercantil (segundo caso). Esses dois últimos foram comprados pelo Nelson Tanure, um mafioso, lobista, que sonha em ser um novo Chateaubriand. Os que sobreviveram não apresentaram nada de novo nos últimos anos. O Estadão continua sendo o jornal da família Mesquita. O Globo adota o bom-mocismo,o politicamente correto de sempre, sem grandes ousadias - é governista por excelência. A Folha é hoje comandada pelo Otavinho, um nerd, que não quis nascer jornalista, mas nasceu.

Acompanho sem tirar a máscara de oxigênio. E vejo que ali, naquela cavidade, se encontram as revistas. Tom prossegue. Eviscerando.

- A Carta Capital, com Mino à frente, tenta ser uma boa alternativa à mediocridade geral, mas não tem matéria-prima pra isso. Paga mal. Bem, a Veja, e a Isto É e a Época são absolutamente iguais. São hoje revistas de consultório, que rivalizam com Caras, Contigo etc.

Um esguicho de pus e outras gosmas menos cotadas interrompe Tom Cardoso, a tempo de evitar que ele inclua a Capricho nessa leva. Se isso não acontecesse, talvez Biajoni fizesse uma defesa mais apaixonada.

- Tem gente boa na Piauí, assim como tem na Rolling Stone, assim como tem na CAPRICHO. Ei, isso é sério! Minha filha lê CAPRICHO e vejo umas coisas muito interessantes lá ... O chamariz da revista é a futilidade do "novo ídolo", etc ... Assim como o chamariz da Piauí pode ser o chef que faz um texto metido a poético sobre como fazer goiabada.

Peraí, peraí, peraí. Eu me recuso a discutir algo relativo a Capricho – sim, sou um intransigente; eu cuspo em vocês. Vamos organizar isso aqui. Revistas como a Piauí e a versão brasileira da Rolling Stone – guardadas as devidas proporções e para nos atermos a apenas dois exemplos recentes – recuperam o "elán admoestado do jornalismo que diz seu nome ouié " ? Limpando as mãos no avental, Tom Cardoso balança a cabeça, em sinal positivo.

- A primeira está cada vez melhor. Precisa apenas se livrar do Ivan Lessa e do Millôr. A segunda me surpreendeu. Está dando espaço para grandes reportagens e adotou uma estratégia mafiosa, porém louvável. Coloca o Rodrigo Santoro na capa para chamar a atenção dos leitores e depois oferece conteúdo de primeira. E vem aí a "Brasileiros", comandada pelo trio Nirlando Beirão, Ricardo Kotscho e Hélio Campos Mello. Eu acho que o último foco de resistência do jornalismo está nessas públicações.


Tognolli, coçando o queixo com um bisturi, faz uma careta e rebate.


- A RS te permite fazer jornalismo literário, o que não havia no Brasil. A Piauí é a New Yorker, bonitinha e feita para se ler enquanto se come scoones, às cinco da tarde, jogando-se cricket. Pais “mudernos” lêem Piauí, seus filhos que tocam guitarra ficam com a RS e os filhos que tocam violão ficam com a Caros Amigos. Nos falta agora uma The Economist.


Resolvo cobrir o cadáver e chamar a todos para sair dali. Já na porta que nos leva ao mondo cane de fora, não consigo evitar: penso em reavivamento por eletrochoque. Será que, na contramão do assassinato do jornalismo no morgue Broadcast, não há uma geração – valha o termo – de jornalistas na Internet preocupada com o desgastado "fazer jornalístico" ?


Biajoni, já do lado de fora, ensaia uma resposta, mas estanca. Olha, incrédulo para mim, cai na gargalhada e me chama.

- Rocha ?

- What ?

- Você já pode tirar essa máscara de oxigênio, cabrón.

fevereiro 27, 2007

O estado a que chegamos

A edição de 26/02 do caderno Link, do Estado de São Paulo, deu páginas e páginas sobre as práticas colaborativas de cunho webjornalístico. O repórter Rodrigo Martins ouviu gente boa como Dan Gillmour, JD Lasica, Ana Maria Brambilla e este que vos digita - pena que limitou minha participação a uma frase em um box. Apesar desta pisada de bola - hahaha ! ô ego - e de ter misturado jornalismo participativo/colaborativo/cidadão - sim, há diferenças -, a matéria é leitura recomendada e aponta que os jornalistas que ainda torcem o bico para tal prática não passam de uma cambada de tias velhas.

fevereiro 22, 2007

Ainda sobre Chico Science

Ecoando tambores de maracatu high-tech de um Recife inexistente para mim, alcanço - tardiamente - esse texto. A pergunta final é a mesma que me faço seguidamente.

fevereiro 21, 2007

"Tudo na Globo é tendencioso e manipulado"



Em 15 de março de 1994, o então apresentador - âncora é o cacete ! - do Jornal Nacional, Cid Moreira, leu uma carta escrita por Leonel Brizola como direito de resposta. São os três minutos - no ar, ao vivo, em horário nobre - mais tensos que já vi na história da tv brasileira. Não sou, não fui e nunca serei brizolista - seja lá o que isso significa -, mas vocês não imaginam a satisfação ouvir o Cid Moreira falando a frase que dá título a este post.

A íntegra do direito de resposta pode ser lida aqui.


 
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